As 35 horas dos enfermeiros – Opinião

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A questão da não passagem para as 35 horas para cerca de 11.000 enfermeiros (20 mil segundo outras fontes) é um problema que se coloca agora, mas que tem raízes com alguns anos. Quando todos os enfermeiros passaram a trabalhar 40 horas por semana este foi um problema esquecido, às custas de mais trabalho de todos. Por isso é que este novo problema é, no entanto, um velho conhecido.

Em 2005, enquanto jovem recém-licenciado em enfermagem, iniciei as funções de enfermeiro trabalhando 35 horas por semana. No fim desse ano surgiu uma proposta para que os enfermeiros com contrato individual de trabalho (CIT) passassem a trabalhar 40 horas. Algumas unidades hospitalares fizeram atualização de vencimento (mais 5 horas por semana), mas outras não.

Nessa altura (há cerca de 10 anos) tive oportunidade de desenvolver inúmeros esforços, junto dos respetivos sindicatos e de entidades empregadoras, alertando para várias questões que na altura me pareciam ser de uma grande injustiça.

Éramos poucos, é verdade. Poucos nos deram ouvidos, é verdade.

Alguns defendiam que os contratos individuais de trabalho eram uma situação provisória, enquanto a carreira de enfermagem não fosse definida. Já lá vão 10 anos e os CIT da altura continuam a ser CIT hoje em dia.

Continuo atualmente convencido que foi uma injustiça tremenda o que fizeram comigo e com várias centenas de colegas que, segundo órgãos de comunicação social, serão agora entre 11 a 20 mil.

Se a atualização do horário de trabalho deixar de fora estes colegas, continuaremos a assistir a uma iniquidade, que definirá enfermeiros de primeira e enfermeiros de segunda. Uma injustiça que ditará quem deve trabalhar mais e quem deve trabalhar menos, para as mesmas funções. Uma injustiça que dividirá a nossa já dividida classe.

Mas como diz o povo “dividir para reinar”.

Espero, no entanto, que o Governo ainda vá a tempo de repor esta injustiça com mais de uma década. Não se trata de pedir nada. Trata-se de justiça.

Declaração de interesses 1: sou militante do PS, com cargos na organização política. Esta filiação no PS, contudo, nunca me impediu nem impedirá de pensar livremente e de discordar, quando assim entender.

Declaração de interesses 2: em 2009 rescindi contrato CIT e deixei de exercer funções de âmbito hospitalar. Portanto, esta minha posição é mesmo por aquilo que entendo ser justo e não por interesse próprio.

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